Calçado é baseado em conceito de amortecimento usado nas estruturas de pontes, como a Rio-Niterói e a Golden Gate, nos EUA
O que têm em comum uma ponte e um tênis? Parece charada, mas foi na comparação entre essas duas estruturas que pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criaram um tipo de calçado ideal para uma boa caminhada. Inspirados nos sistemas de amortecimento de famosas travessias, como a Ponte Rio-Niterói e a Golden Gate, nos Estados Unidos, estudantes e professores de engenharia mecânica desenvolveram um solado que suporta melhor o esforço dos exercícios físicos. A parceria com os cursos de fisioterapia e engenharia de produção assegurou a qualidade do produto.
Depois de analisar várias estruturas da engenharia, como construções em formatos de triângulos e quadrados, eles desenvolveram um amortecimento capaz de absorver melhor impactos. "O mais importante em um tênis especial para caminhar é que ele consiga responder bem ao choque entre chão e corpo. Não pode ser tão rígido nem tão mole. A ponte concilia esses conceitos. Se não tivesse uma boa suspensão, cairia com as toneladas que passam por ela", explica o doutorando Daniel Neves Rocha.

A inovação do redutor de impactos é a geometria em arcos, que garante ao atleta uma uniformidade por todo o solado de absorção das colisões entre tênis e superfície. O grupo chegou ao modelo por meio de testes com uma máquina que mede a força produzida pelo sistema de amortecimento, em resposta à outra força aplicada em cima dele. "Nós mesmos criamos esse equipamento. Mapeamos o solado do tênis com pontinhos e, depois, a máquina o apalpa e mede a força da reação do solado. Como o resultado foi satisfatório, criamos a melhor estrutura de amortecimento", explica o coordenador do Laboratório de Bioengenharia da Engenharia Mecânica, Marcos Pinotti.

Paralelamente, o trabalho era acompanhado pela equipe de fisioterapia, que dava dicas sobre reações que não causariam lesões a quem usa o tênis. "O calçado varia de acordo com o seu uso. Não adianta correr com um tênis para caminhadas. Então, para avaliar qual a melhor reação, acompanhamos o exercício de pessoas com diferentes tênis e observamos o que poderia causar danos à saúde", conta o fisioterapeuta do Laboratório de Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas da UFMG Leandro Bicalho. Segundo ele, um calçado inadequado pode ser responsável por lesões que vão dos pés à coluna.
O cabedal do tênis (corpo do calçado) foi projetado pelos pesquisadores do curso de engenharia de produção. "Esse elemento do tênis também deve dar mobilidade, controle do movimento e firmeza no calcanhar. Além disso, deve ser criativo no design", explica o professor Eduardo Romeiro Filho. Segundo ele, o modelo proposto foi tão inovador que nem tudo foi incorporado. "É a teoria de não romper com tudo do passado para não assustar o consumidor", diz.
Resultado
O tênis realmente foi parar no mercado. O projeto foi desenvolvido pela equipe da UFMG a pedido da Crômic, indústria de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas, região responsável por 52% da produção nacional de calçados esportivos. Há dois anos o dono da empresa procurou a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da universidade para aprimorar suas peças. "Se formos avaliar, desenvolvemos muito rapidamente o novo produto. Em apenas dois anos, fomos capazes de inovar no modelo de amortecimento, um dos melhores produzidos no Brasil", afirma o professor Marcos Pinotti.
Segundo ele, a parceria deu tão certo que a equipe já está se reunindo novamente com os empresários para desenvolver outros modelos. "Só posso adiantar que vamos avançar ainda mais na nossa criação", diz Pinotti. A UFMG patenteou a criação e recebe parcelas da venda do produto. O tênis Crômic Aerobase é encontrado em algumas lojas de calçado e na cooperativa médica da UFMG, no câmpus Pampulha, em Belo Horizonte.
O preço varia entre R$ 80 (31€) e R$ 100 (39€).
Mais informações em:
http://www.cromic.com.br/aerobase.html
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