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Compro o que é nosso? Nem sempre!

"Se cada português gastasse 150€ por ano em produtos nacionais, a economia crescia acima de todas as expectativas e ainda por cima criavam-novos postos de trabalho".
A frase, incluindo inúmeras variações, encontra-se repetida até a exaustão em blogues e redes sociais. Este tipo de pensamento linear é credo para muitos portugueses.
A associação empresarial de Portugal criou mesmo a campanha "Compro o que é nosso", destinado essencialmente a sensibilizar os consumidores portugueses para os benefícios da preferência por produtos e marcas que geram valor acrescentado em Portugal.
Além dos produtos fruticulas e horticulas este tipo de campanhas também costuma ter altos níveis de notoriedade noutros produtos tradicionalmente reconhecidos como portugueses, como o calçado. Se excluirmos o pequeno detalhe de não existirem dados ou estudos que validem esta afirmação, apenas o chamado senso comum, a afirmação é um óptimo ponto de partida, como exercício para discutir a competitividade da indústria portuguesa:
Devem os consumidores dar preferência aos produtos fabricados em Portugal em todas as suas compras? Eu acredito que Não, a compra deve do consumidor deve ser decidida em função dos seus gostos, necessidades e orçamento.
Sem o querer, o êxito de campanhas tipo o selo "compro português" pode estar a contribuir para o aumento de falta de competitividade de uma parte da indústria, o que ao mesmo tempo acaba por fragilizar a própria economia, este facto é especialmente notório em períodos de crise como o que atravessamos actualmente, quando a procura interna diminui, matando mercado precisamente às indústrias que se concentraram no mercado interno.
Um consumidor, ao comprar produtos com o selo "compro o que é nosso" ou similares, pelo simples argumento do local geográfico de origem, pode estar, a premiar a mediocridade, optando por produtos pouco competitivos em qualidade e preço. Simplesmente, porque o empresário ou indústria que o fabrica, em vez de ter investido em apresentar produtos inovadores ou procurar saber que produtos os consumidores procuram, em ser o mais competitivo possível, resolveu escudar-se num selo de origem, que não o obriga a qualquer outra certificação como por exemplo a gestão de qualidade.
Os industriais e empresários portugueses devem apostar em colocar no mercado os produtos mais inovadores, competitivos e desejados pelos consumidores, indo desta forma ao encontro das necessidades dos consumidores, garantindo que para os consumidores portugueses, o local geográfico de origem dos seus produtos, é apenas mais um argumento e não "O" principal argumento para a sua compra.
Por mais patriotismo que os consumidores tenham, algumas das suas escolhas não serão determinadas unicamente pelo local de origem dos produtos.
Se têm dúvidas procurem o selo "compro português" ou similar nos produtos das marcas portuguesas com maior êxito fora das nossas fronteiras como o papel higiénico Renova ou o papel para impressora Navigator.
Se não encontram é simplesmente porque os produtos são competitivos e inovadores por si, levando os consumidores de vários países a comprar-los: os seus fabricantes sabem-no, não precisando de se escudar em argumentos patrióticos.

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